quinta-feira, 25 de abril de 2013

Artigo: Do Campo Velho ao Marechal Rondon


Cuiabá sempre teve aeroportos “provisórios”, “remendados” e “puxadinhos”, construídos apenas para atender às necessidades imediatas de seu tempo presente. Isto ocorreu desde os tempos do “Campo Velho” e dos hidroaviões (1929) até à era dos aviões a jato, com o atual Aeroporto Internacional Marechal Rondon. Como parte dessa expansão, existe um projeto de obras em execução no Marechal Rondon, que deve ser inaugurado antes da Copa de 2014. Nessas obras estão previstas a reforma e ampliação do terminal de passageiros, do sistema rodoviário interno e do estacionamento do aeroporto. O projeto prevê ainda a instalação de pontes de embarque, nova sinalização horizontal do pátio da aeronave, área de equipamentos de rampa e ampliação dos sistemas de infraestrutura básica do novo prédio administrativo da Infraero.

Com a execução do projeto, a área construída do novo aeroporto passará de 5,46 mil metros quadrados para 13,20 mil metros quadrados. A capacidade também deve aumentar, passando de 2,5 milhões para 5,7 milhões de passageiros ao ano. A estimativa é de que as obras fiquem prontas em dezembro deste ano.

Em meio a essas ações, expectativas e projeções, a população mato-grossense, especificamente de Cuiabá e Várzea Grande, espera por um aeroporto “definitivo” que insiste em não chegar. Será que chegará junto com a Copa de 2014? O discurso de modernização em torno desse evento já chegou. A cidade de Cuiabá, que continua esperando pelo trem, aguarda agora pelo VLT e pelo moderno aeroporto.

Ao longo de quase um século, Cuiabá não conseguiu se desvencilhar do caráter “provisório” de seu aeroporto. Por ora, a certeza que temos é de que o “Campo Velho” continua cada vez mais esquecido, ao passo que se renovam os discursos de modernização em uma cidade que não para de (re)criar seus espaços.

A tendência é de que a nossa capital continue crescendo em uma proporção absurda, visível a olho nu por todos que passam ou vivem por aqui. A demanda por um aeroporto capaz de atender esse crescimento já está posta.

Passou o tempo e chegou a hora de desvencilhar-se dos “puxadinhos”, das obras remendadas feitas às pressas, em detrimento da urgência de realização de grandes obras estruturais que a metrópole exige. Passou-se da hora de Cuiabá romper com o estigma de ser uma cidade “reformada”, sem visão de futuro, planejamento e respeito ao ser humano.

Analisando a história do aeroporto de Cuiabá, chegamos a algumas constatações importantes: (a) a construção do aeroporto de Cuiabá na história regional foi precedida por um determinado discurso de modernização, implementado pelas elites política, econômica e letrada; (b) a transferência do aeroporto de Cuiabá para Várzea Grande atendeu a interesses políticos e econômicos, a fim de conferir, a este município, uma afirmação de identidade; (c) não existiu, por parte do poder público e de nenhum outro órgão, ações no sentido de preservar esses lugares históricos e, muito menos, de registrar os acontecimentos que ocorreram em Cuiabá e Várzea Grande, no que diz respeito aos desdobramentos da história da aviação no estado de Mato Grosso.

Atualmente, os grandes aeroportos vêm desempenhando papel relevante no desenvolvimento regional, constituindo-se em uma rede de serviços, um centro de negócios dotado de infraestrutura capaz de movimentar uma parcela significativa da economia, gerando emprego e renda e, ainda, fomentando o turismo e o desenvolvimento regional. Em Cuiabá não será diferente, por isso acredito que este processo é só uma questão de tempo mesmo.



*VALMIR FERREIRA DOS SANTOS é historiador, teólogo, escritor e conferencista, atualmente cursando mestrado em História na Universidade Federal de Mato Grosso

valmir_1221@yahoo.com.br

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